Missão de peritos visa garantir transparência na aplicação de 133 mil milhões de dólares, face a denúncias de corrupção e má gestão na Ucrânia.
Um grupo de peritos em auditoria provenientes dos Estados Unidos chegou esta terça-feira a Kiev com a missão de realizar uma avaliação rigorosa e detalhada sobre a gestão dos recursos financeiros e da assistência militar enviados pelos EUA à Ucrânia desde o início da guerra. O principal propósito da missão é assegurar transparência e responsabilidade na utilização desses fundos, tendo em conta o historial de corrupção persistente no país.
Desde o início da invasão russa, há mais de três anos, a Ucrânia beneficiou de uma quantidade significativa de apoio por parte das nações ocidentais, que totaliza aproximadamente 133 mil milhões de dólares. Os Estados Unidos destacam-se como o maior contribuinte individual desta ajuda internacional. Apesar dos elevados montantes transferidos, tem havido escassez de relatórios claros e detalhados sobre como e onde estes fundos foram efetivamente aplicados, bem como quem são os destinatários finais dos mesmos.
Casos recentes de má gestão financeira e escândalos envolvendo altos responsáveis aumentaram a pressão por maior fiscalização. Um exemplo marcante foi o contrato realizado pelo Ministério da Defesa da Ucrânia, que adquiriu produtos alimentares, como ovos, por valores até quatro vezes superiores aos praticados no mercado. Outro episódio controverso envolveu a aquisição de casacos de inverno inadequados para as tropas. Estes escândalos, apesar de não resultarem diretamente em acusações formais contra os envolvidos, contribuíram para mudanças no topo da hierarquia. Em setembro de 2023, o presidente Volodymyr Zelenskyy demitiu o então ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, numa tentativa de restaurar a confiança pública, ainda que o governante não tenha sido oficialmente acusado de má conduta.
A atual missão de auditoria foi financiada com verbas específicas disponibilizadas pelo Departamento de Estado norte-americano, num total de 814.806 dólares. Este montante cobrirá as despesas operacionais da equipa durante um mês de estadia em Kiev, incluindo o alojamento no hotel Hilton da capital ucraniana. A comitiva de auditores é composta por cerca de 80 a 100 especialistas e técnicos, com competências em diversas áreas, e terá como missão central examinar a aplicação dos fundos em sectores-chave como assistência militar, apoio humanitário, logística e segurança interna.
A presença destes auditores insere-se num esforço mais vasto de reforço dos mecanismos de supervisão por parte dos Estados Unidos, especialmente no seguimento da aprovação do mais recente pacote de ajuda à Ucrânia, no valor de 60 mil milhões de dólares. Este pacote inclui, pela primeira vez, uma dotação substancial destinada exclusivamente a auditorias e controlo do uso dos fundos.
A administração liderada anteriormente por Donald Trump tem vindo a adotar uma postura rigorosa relativamente à transparência na aplicação dos recursos enviados ao estrangeiro. O atual Secretário de Estado, Marco Rubio, reiterou essa posição durante uma audição no Congresso norte-americano, afirmando que será feita uma verificação minuciosa de cada dólar gasto: “Cada cêntimo será escrutinado. Se forem detetadas irregularidades ou desvios, os responsáveis enfrentarão as devidas consequências”, garantiu o governante.
Esta auditoria poderá ter um impacto significativo na forma como os EUA e outros países parceiros continuarão a apoiar a Ucrânia nos próximos meses, condicionando possíveis futuras transferências ao grau de transparência demonstrado no terreno.
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