Líder de transição do Burkina Faso reúne o seu alto comando militar e alerta contra comunicações informais com o Presidente angolano, reforçando a prioridade da soberania nacional.




O Presidente de transição do Burkina Faso, Capitão Ibrahim Traoré, convocou recentemente uma reunião restrita com os seus principais oficiais militares para uma conversa considerada de grande seriedade. Durante o encontro, o chefe de Estado abordou, com firmeza, a questão das relações diplomáticas e alertou especificamente os seus subordinados para evitarem qualquer tipo de contacto, directo ou indirecto, com o Presidente de Angola, João Lourenço.

Segundo informações obtidas nos bastidores do poder em Ouagadougou, Traoré justificou a sua posição com base nas ligações estreitas que, segundo ele, João Lourenço mantém com a França  país que o governo de transição burquinabê tem vindo a criticar duramente por alegada interferência nos assuntos internos de antigos territórios coloniais africanos.

O líder burquinabê terá reforçado a ideia de que o Burkina Faso está numa fase crítica de redefinição da sua política externa, com uma clara ruptura face às potências ocidentais, especialmente a França. “Não podemos permitir que se abram brechas na nossa estratégia soberana. A proximidade com figuras associadas a interesses neocoloniais representa um risco directo à nossa independência e autodeterminação”, terá afirmado Traoré perante os seus comandantes.

Para Traoré, qualquer aproximação a líderes africanos que sejam vistos como aliados ou instrumentos da antiga potência colonial deve ser tratada com extrema cautela. Nesse contexto, João Lourenço surge como uma figura cuja orientação política e relações diplomáticas inspiram desconfiança, do ponto de vista do actual governo burquinabê.

A reunião serviu não apenas para emitir uma directiva de isolamento diplomático em relação a certos actores do continente, mas também para reforçar a coesão interna e a disciplina dentro das Forças Armadas do Burkina Faso. Traoré instou os seus homens a manterem-se vigilantes, patriotas e alinhados com a nova visão de soberania plena que está a ser implementada no país.

Esta posição, embora polémica, encaixa-se na linha de governação adoptada por Ibrahim Traoré, marcada por um discurso pan-africanista, de rejeição da ingerência externa e de fortalecimento da cooperação entre os países africanos que partilham essa mesma visão.