Daniel Chapo afirma que manifestações provocaram mais estragos do que a guerra dos 16 anos, revelando possível intenção de criminalizar Venâncio Mondlane


Daniel Chapo, candidato presidencial da Frelimo, surpreendeu a opinião pública ao declarar que as recentes manifestações ocorridas no país causaram mais danos e perturbações do que a própria guerra civil que devastou Moçambique durante 16 anos. Esta comparação provocou reações intensas entre analistas políticos, organizações da sociedade civil e cidadãos comuns, que consideram tal afirmação não só desproporcional, como também reveladora de uma possível agenda política mais profunda.

Ao traçar este paralelismo, Chapo parece querer lançar sobre as manifestações uma carga de gravidade extrema, semelhante a um conflito armado prolongado, o que levanta sérias preocupações sobre as intenções por trás das suas palavras. Muitos interpretam esta retórica como uma tentativa subtil de legitimar medidas repressivas contra figuras da oposição, nomeadamente Venâncio Mondlane, um dos principais rostos associados aos protestos e à contestação popular.

A forma como Daniel Chapo descreveu os acontecimentos sugere um esforço deliberado para moldar a narrativa pública, associando Mondlane a actos de insurreição ou instabilidade nacional. Para muitos, essa linguagem pode ser vista como um pretexto para justificar a perseguição judicial e até a eventual prisão do opositor, recorrendo ao argumento de que representa uma ameaça à ordem pública.

Estas declarações não surgem num vazio. Vêm num contexto em que se intensificam os ataques políticos e mediáticos contra Mondlane, o que leva observadores a concluir que existe uma estratégia em curso para o silenciar ou neutralizar politicamente. Se, de facto, Daniel Chapo acredita que as manifestações superaram em impacto destrutivo uma guerra que custou milhares de vidas, isso levanta uma questão inevitável: que tipo de resposta o Estado está disposto a aplicar contra os seus organizadores e participantes?

A associação exagerada das manifestações a um cenário de guerra pode abrir espaço para medidas autoritárias, restrições às liberdades cívicas e reforço do controlo sobre a oposição. Tudo indica que Chapo, ao fazer tais comparações, prepara o terreno para a criminalização de Mondlane e de todos os que se lhe opõem.