Tal como Mandela foi condenado por terrorismo pelo regime do apartheid, Venâncio Mondlane enfrenta agora acusações semelhantes por desafiar o poder da Frelimo.


O regime do apartheid condenou Nelson Mandela à prisão perpétua sob acusação de terrorismo. Hoje, o governo liderado pela Frelimo parece seguir o mesmo guião em relação a Venâncio Mondlane.

Durante os tempos sombrios do regime do apartheid na África do Sul, Nelson Rolihlahla Mandela foi injustamente condenado à prisão perpétua. A acusação oficial? Terrorismo. No entanto, a verdadeira razão por trás dessa condenação foi o seu papel determinante na luta contra a opressão e pela libertação do povo sul-africano.

Hoje, décadas depois, a história parece repetir-se  mas agora em Moçambique. O actual governo, sob controlo da Frelimo, tem vindo a demonstrar sinais de intolerância crescente face à oposição política, particularmente em relação a Venâncio Mondlane. O político da oposição tem sido alvo de múltiplas acusações, perseguições e tentativas de silenciamento, levantando sérias preocupações sobre o estado da democracia no país.

Há quem veja neste processo uma tentativa deliberada de transformar Mondlane numa figura neutralizada, tal como Mandela o foi no passado, através da criminalização do seu activismo político. A narrativa construída em torno de alegações de terrorismo e desestabilização interna serve, para muitos, como uma cortina de fumo para esconder um medo real: o receio da mudança e da perda do controlo por parte do partido dominante.

Comparar as duas situações separadas por tempo e geografia é também um alerta. Mandela foi preso por se insurgir contra um sistema opressor. Mondlane, dizem os seus apoiantes, está a ser alvo da mesma lógica persecutória por ousar desafiar o poder instituído.

A tentativa de associar a oposição política ao terrorismo revela não apenas um abuso das instituições judiciais, mas também uma estratégia de intimidação. Tal como o regime do apartheid usou os tribunais para eliminar ameaças políticas, há sinais de que a justiça moçambicana pode estar a ser instrumentalizada com fins semelhantes.

A comunidade internacional, assim como a sociedade civil moçambicana, deve manter-se atenta e vigilante. A história ensinou-nos que rotular os que lutam por justiça como “terroristas” é uma táctica antiga usada pelos regimes que temem o despertar do povo.