Ex-primeira-dama moçambicana denuncia ligação entre figuras da FRELIMO e repressão violenta a manifestantes, exigindo justiça pelas mortes causadas.
Numa rara e contundente intervenção pública, a activista e ex-primeira-dama Graça Machel surpreendeu a comunidade internacional ao fazer declarações explosivas durante a participação num podcast de alcance global. Durante a entrevista, Machel não poupou críticas à actuação das autoridades moçambicanas, apontando directamente o dedo a elementos ligados à FRELIMO, partido no poder, como estando implicados na repressão violenta das manifestações populares que têm abalado o país nos últimos tempos.
De acordo com Graça Machel, a resposta do Estado às manifestações tem sido desproporcional e marcada por uma violência sistemática e deliberada, resultando em mortes que, segundo ela, "não podem mais ser ignoradas nem tratadas como meros danos colaterais". A activista afirmou que possui informações credíveis que indicam a existência de ordens superiores dentro do aparelho político para silenciar as vozes dissidentes através da força policial.
"A Polícia moçambicana não age sozinha. Há uma cadeia de comando e, infelizmente, essa cadeia aponta para membros influentes dentro da FRELIMO. É preciso dizê-lo com clareza: estas mortes não são apenas responsabilidade de quem carrega a arma, mas também de quem dá a ordem", declarou Machel com firmeza.
As suas palavras têm causado uma forte agitação tanto a nível nacional como internacional, reacendendo o debate sobre a liberdade de expressão, os direitos humanos e o papel do partido governante na gestão de crises sociais. Para muitos analistas, este posicionamento de Graça Machel, figura altamente respeitada e associada ao legado de luta pela justiça social em África, representa um divisor de águas na narrativa política moçambicana.
As manifestações a que Machel se refere ocorreram em diferentes províncias do país, com centenas de jovens a saírem às ruas para exigir melhores condições de vida, mais oportunidades de emprego e o fim da corrupção. Em diversas ocasiões, esses protestos terminaram em confrontos com as forças de segurança, resultando em vários mortos e feridos, incluindo civis desarmados.
Até ao momento, o governo moçambicano e a liderança da FRELIMO ainda não se pronunciaram oficialmente sobre as acusações feitas por Graça Machel. No entanto, nas redes sociais e nos meios de comunicação independentes, cresce a pressão para que se realize uma investigação imparcial e que se responsabilizem todos os envolvidos nas violações dos direitos fundamentais dos cidadãos.
Com esta declaração pública, Graça Machel volta a colocar-se no centro da vida política e social do país, desta vez como voz crítica contra os abusos do poder. A sua coragem em denunciar os factos poderá encorajar outros líderes e figuras públicas a juntarem-se ao apelo por justiça, verdade e responsabilização em Moçambique.
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