Apesar das suspeitas de envolvimento de indivíduos com coletes do SERNIC, a polícia nega qualquer responsabilidade e acusa a família de ocultar informações, enquanto o paradeiro de Vitano Singano continua desconhecido após um mês de silêncio e incerteza.


Quatro semanas após o desaparecimento de Vitano Singano, líder do movimento político RD, a sua família continua a viver momentos de angústia e incerteza. Até ao momento, não existem pistas concretas que indiquem o seu paradeiro, e as informações disponíveis levantam sérias dúvidas sobre a actuação das autoridades.

Em contacto telefónico mantido esta terça-feira com a nossa redação, Cidália Singano, esposa de Vitano, revelou que, desde o dia do sequestro, ocorrido na cidade da Beira, não foi obtida qualquer pista útil que possa levar à localização do seu marido. "Até agora, estamos sem pistas, sem nada", desabafou Cidália, visivelmente abalada com a ausência prolongada do companheiro.

O caso reveste-se de contornos particularmente preocupantes. Testemunhas e familiares relatam que os indivíduos que levaram Vitano estariam equipados com coletes semelhantes aos utilizados por agentes do SERNIC (Serviço Nacional de Investigação Criminal). Esta alegada utilização de material semelhante ao da polícia levanta suspeitas sobre a eventual participação ou conhecimento de entidades estatais no desaparecimento.

No entanto, o próprio SERNIC, através da sua delegação na província de Sofala, já veio a público refutar qualquer envolvimento no caso. Em declarações recentes, a instituição não só negou responsabilidade, como acusou a própria família de Vitano de saber do seu paradeiro, sugerindo que o líder do RD estaria em parte incerta, mas ainda com vida. A acusação foi recebida com perplexidade e revolta pelos familiares, que exigem respostas e acções mais firmes por parte das autoridades competentes.

A falta de avanços concretos na investigação e as declarações contraditórias entre as partes envolvidas aumentam a inquietação da opinião pública. Grupos de activistas, jornalistas e cidadãos têm-se mobilizado nas redes sociais, utilizando a hashtag #4semanassemviranosingano como forma de chamar a atenção para o silêncio que se abateu sobre o caso.

Este desaparecimento, ocorrido num contexto político sensível, acende alertas sobre a segurança de líderes de movimentos opositores e o estado das liberdades civis em Moçambique. Muitos questionam até que ponto a justiça será capaz de actuar de forma imparcial, especialmente quando há indícios que podem envolver entidades públicas.

A esposa de Vitano, apoiada por amigos e simpatizantes do movimento que o político liderava, apela à solidariedade nacional e internacional. “Queremos apenas saber onde está o Vitano, se está vivo, se está bem... merecemos respostas, porque ninguém desaparece assim durante semanas sem que haja um rasto, uma explicação”, frisou Cidália.

A situação permanece envolta em mistério, e o tempo vai tornando mais difícil o trabalho de localização e eventual resgate. A ausência de notícias concretas, aliada às acusações trocadas entre família e autoridades, deixa um rasto de desconfiança e indignação.

Este caso simboliza não apenas a dor de uma família que perdeu o contacto com um ente querido, mas também o estado frágil das garantias de segurança, transparência e justiça em Moçambique. A sociedade civil exige que se faça luz sobre o desaparecimento de Vitano Singano, e que os responsáveis, sejam quem forem, prestem contas.