Ex-presidente expõe alegado sistema de corrupção e controlo político que, segundo ele, mantém Moçambique preso a décadas de opressão.


Num momento político carregado de tensão e significado, Joaquim Chissano, antigo Presidente da República e figura histórica da Frente de Libertação de Moçambique, proferiu declarações que, segundo analistas, podem representar uma das mais graves exposições internas sobre os bastidores do partido no poder. Conhecido durante anos como um dos rostos centrais da estrutura governativa, Chissano deixou escapar palavras que soam como uma denúncia velada do funcionamento interno da FRELIMO  um mecanismo que, alegadamente, tem sido sustentado por práticas de manipulação, controlo e corrupção.

As afirmações, carregadas de peso simbólico, surgem como uma rara rutura de silêncio no seio das altas esferas políticas, revelando a existência de um sistema consolidado ao longo de décadas, criado para garantir a manutenção do poder a qualquer custo. Segundo as suas próprias palavras, e a interpretação que delas fazem observadores atentos, trata-se de uma engrenagem que sufoca o pluralismo democrático, restringe liberdades e perpetua desigualdades, ao mesmo tempo que assegura benefícios a uma elite restrita.

Esta revelação, que muitos classificam como um “rasgar de véu” sobre a verdadeira face do regime, expõe aquilo que, durante anos, foi mantido longe do conhecimento público: estratégias calculadas para manter o país sob uma espécie de tutela política, onde a dissidência é abafada e o questionamento é desencorajado.

A possibilidade de que tais declarações venham a abrir fissuras dentro do próprio partido é real. Para setores da sociedade civil e grupos da oposição, as palavras de Chissano representam um sinal de que, mesmo entre os veteranos da luta de libertação, existe descontentamento com a forma como o poder tem sido exercido.

Especialistas alertam que este pode ser um momento decisivo para Moçambique. O impacto destas revelações, aliado ao crescente descontentamento popular, poderá funcionar como catalisador de mudanças profundas. No entanto, há também quem tema que o sistema político vigente reaja de forma a neutralizar qualquer tentativa de reformulação do poder.

Com o país a atravessar uma fase delicada no campo económico e social, a voz de um ex-chefe de Estado a apontar fragilidades e a expor mecanismos internos de controlo político poderá inflamar ainda mais a tensão entre governantes e governados. Resta saber se estas palavras serão o início de uma transformação genuína ou se se perderão no turbilhão das disputas políticas que marcam a história recente de Moçambique.