Agente da PRM perde a vida com um disparo da própria arma enquanto estava de serviço numa residência diplomática em Maputo – uma tragédia que expõe o silêncio sobre a saúde mental nas forças de segurança.
Era uma manhã aparentemente banal de segunda-feira, no dia 5 de Agosto de 2025. O bairro nobre do Sommerschield, em Maputo, despertava aos poucos. O aroma quente do pão recém-saído do forno misturava-se ao zumbido dos carros que começavam a circular pelas avenidas, levando trabalhadores para mais um dia nos escritórios do centro. O sol, ainda tímido, subia no céu com a serenidade de quem já se habituou à rotina daquela cidade que nunca pára, mas que raramente olha para os seus próprios guardiões.
Naquela manhã, contudo, algo fugiu ao roteiro habitual. Um único som cortou o ar com violência um disparo seco, repentino, fatal. E nesse instante, tudo mudou. A rotina que parecia imutável vacilou, por breves segundos, diante de uma tragédia que se desenrolou de forma discreta, quase imperceptível aos olhos apressados da metrópole.
Débora Zandamela era o nome que constava no uniforme. Uma agente da Polícia da República de Moçambique. Mulher. Fardada. Em serviço. Um rosto entre muitos outros que passam despercebidos nos portões de residências diplomáticas, protegendo em silêncio, zelando sem que muitos saibam o que enfrentam. Naquele dia, Débora estava de serviço na residência oficial do Primeiro Secretário da Embaixada do Zimbabwe. Era o seu posto habitual, a sua missão diária.
Empunhava uma AK-47, arma que lhe fora atribuída como instrumento de defesa. Mas, tragicamente, foi a mesma arma que selou o seu destino. Um único tiro, certeiro, no abdómen. Um disparo que não visou um inimigo, mas a própria guarda. A arma que deveria servir para proteger tornou-se o objecto do seu fim. Número de série registado, munições controladas, tudo sob o protocolo habitual. Nada disso impediu que aquela arma de guerra fosse usada para um acto desesperado.
O silêncio que se seguiu foi mais ensurdecedor do que o estampido do tiro. A cidade, sempre apressada, parou por breves momentos.
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