Alegado pacto secreto entre Maputo e Kigali levanta suspeitas de que interesses económicos e políticos se sobrepõem à defesa da soberania nacional.


A polémica em torno da presença militar do Ruanda em Cabo Delgado volta a ganhar força, agora com acusações mais sérias: setores críticos acusam a Frelimo de ter “vendido” parte da soberania nacional ao presidente ruandês, Paul Kagame, através de entendimentos pouco claros e envoltos em segredo.

De acordo com vozes da oposição e de analistas independentes, a cooperação entre Moçambique e Ruanda, que inicialmente foi apresentada como uma parceria estratégica para travar a insurgência armada no norte do país, pode ter ultrapassado os limites da simples colaboração militar. As denúncias sugerem que, por detrás das operações conjuntas, poderá estar um acordo político e económico que beneficia Kigali em detrimento dos interesses nacionais.

A chegada das tropas ruandesas a Cabo Delgado, em 2021, foi justificada pela necessidade urgente de conter o avanço dos grupos insurgentes que ameaçavam a estabilidade da província e a exploração dos megaprojetos de gás natural. A intervenção trouxe, de facto, algum alívio às populações locais e segurança às áreas estratégicas, mas nunca deixou de levantar interrogações sobre os termos do entendimento firmado.

A falta de transparência é um dos pontos mais criticados. O governo moçambicano pouco ou nada revelou sobre as condições acordadas com o Ruanda. Não se sabe quem financia, em concreto, a presença das tropas, nem quais as contrapartidas oferecidas a Kigali. Para muitos observadores, este silêncio abre espaço a suspeitas de que a soberania nacional poderá ter sido comprometida em troca de interesses partidários ou de benefícios económicos reservados a elites próximas do poder.

Os críticos mais duros falam mesmo em “entrega” ou “venda” de Cabo Delgado, afirmando que a província corre o risco de se transformar numa zona de influência estrangeira dentro de Moçambique. Paul Kagame, frequentemente acusado de perseguir interesses económicos em África sob a capa de intervenções militares, é apontado como o grande beneficiário de um eventual acordo oculto.

Por outro lado, os defensores do governo sustentam que a presença ruandesa foi e continua a ser fundamental para conter a insurgência, lembrando que, antes da chegada das tropas de Kigali, o exército moçambicano enfrentava enormes dificuldades em garantir segurança à população e proteger as infraestruturas críticas. Para esses, as acusações de “venda” da província não passam de retórica política destinada a fragilizar a imagem da Frelimo.