João Matlhombe afirma que a iniciativa de transporte de passageiros com tractores foi herdada do anterior Executivo, mas falha em esclarecer os custos envolvidos, aumentando suspeitas de má gestão e sobrefacturação.
Depois de vários dias de intensos debates na esfera pública e de críticas constantes ao projecto de transporte de passageiros com recurso a tractores modificados, o ministro dos Transportes e Comunicações, João Matlhombe, veio finalmente a público reagir às acusações que têm vindo a ser levantadas. A intervenção do governante ocorreu na cidade da Beira, onde procurou clarificar alguns pontos considerados polémicos sobre a iniciativa em causa.
Num tom cauteloso, Matlhombe começou por afastar responsabilidades directas do actual Executivo, esclarecendo que o referido projecto não foi concebido sob a alçada do Governo dirigido pelo Presidente Filipe Nyusi. “Trata-se de um projecto herdado do Governo anterior”, declarou o ministro, numa tentativa evidente de distanciamento institucional e político face à origem da iniciativa.
Apesar de deixar claro que a concepção e o arranque do projecto não foram da responsabilidade da actual administração, João Matlhombe justificou a continuidade da sua implementação com base na lógica de aproveitamento de recursos e na ideia de não comprometer investimentos previamente efectuados. Sublinhou, no entanto, que a continuação da sua execução não impede uma reavaliação crítica, admitindo a possibilidade de revisão ou mesmo interrupção da iniciativa, caso se revele ineficaz ou insustentável.
Contudo, as declarações do ministro não foram suficientes para dissipar as dúvidas que pairam no ar. Pelo contrário, segundo vários analistas e vozes críticas da sociedade civil, a comunicação feita a partir da Beira levantou ainda mais interrogações do que certezas. Um dos principais pontos de contestação diz respeito à ausência de dados concretos sobre o custo total do projecto.
João Matlhombe não revelou quanto está efectivamente a ser gasto com a aquisição dos 400 tractores adaptados para o transporte de passageiros, o que tem alimentado especulações sobre uma possível sobrefacturação e uso indevido de fundos públicos. A falta de transparência financeira associada ao projecto tem sido alvo de críticas, sobretudo num contexto em que o país enfrenta inúmeros desafios económicos e sociais que exigem uma gestão rigorosa dos recursos do Estado.
As imagens dos tractores a circular em estradas moçambicanas, transportando cidadãos como se fossem autocarros improvisados, tornaram-se virais nas redes sociais e reacenderam o debate sobre a qualidade das políticas públicas implementadas. Enquanto uns vêem na medida uma solução prática para zonas com difícil acesso a transporte convencional, outros denunciam a ideia como um retrocesso civilizacional e um sinal claro de falência na gestão da mobilidade urbana e rural.
Por seu turno, o ministro dos Transportes garantiu que o projecto está a ser monitorizado e que os resultados da sua execução serão avaliados periodicamente. No entanto, não avançou prazos nem critérios específicos de avaliação, deixando em aberto a eficácia de tal monitorização.
No seio da opinião pública, cresce a exigência por maior clareza e responsabilização. Vários sectores da sociedade pedem uma auditoria independente ao projecto dos tractores, não apenas para apurar a legalidade dos contratos assinados, mas também para verificar se a aquisição dos meios de transporte respeitou os princípios da boa governação, da economicidade e da transparência.
Para já, o país aguarda por respostas mais objectivas. E, enquanto elas não chegam, a polémica em torno dos tractores continua a ganhar força, colocando pressão sobre o Governo para que preste contas à população.
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