Ex-Vice-Chefe do Estado-Maior critica politização das FDAM e propõe mudanças estruturais para reforçar a neutralidade e eficácia das forças armadas moçambicanas.
O antigo Vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FDAM), general na reserva Capitine, veio a público numa entrevista concedida a um canal de televisão privado, onde defendeu uma reforma profunda e urgente no seio da instituição militar. Segundo o ex-dirigente das forças armadas, a FDAM enfrenta hoje uma crise de identidade e funcionalidade, fortemente condicionada pela crescente interferência política nas suas estruturas e processos decisórios.
Durante a conversa, Capitine não poupou críticas à forma como as nomeações para cargos de comando têm sido geridas. Na sua visão, tais escolhas devem basear-se em critérios de mérito, competência técnica e experiência no terreno, e não em ligações partidárias ou conveniências políticas. “O exército deve servir a nação e não um partido. A politização das forças armadas mina a sua credibilidade, neutralidade e eficácia operativa”, afirmou.
Capitine sublinhou ainda que a autonomia institucional das FDAM está em risco, uma vez que decisões operacionais estratégicas têm sido, alegadamente, condicionadas por interesses externos à esfera militar. “Não é saudável que comandos recebam orientações de fora da hierarquia castrense. Isso desvirtua completamente o papel das forças armadas numa democracia”, alertou.
Para além das críticas, o antigo vice-general propôs um pacote de reformas estruturais que inclui, entre outras medidas, a revisão dos critérios de recrutamento e promoção, o reforço da formação contínua dos militares, bem como a criação de mecanismos de fiscalização e responsabilização interna. Defende ainda que o Parlamento e a sociedade civil devem ter maior envolvimento no escrutínio das acções da FDAM, de forma a assegurar que estas actuem em conformidade com os princípios constitucionais e os valores republicanos.
A entrevista surge num momento particularmente sensível, em que diversos sectores da sociedade civil e organizações internacionais têm levantado preocupações sobre a actuação das forças armadas em determinadas províncias do país, nomeadamente em Cabo Delgado. Capitine considera que é precisamente nestes contextos de crise que a independência e o profissionalismo das forças armadas se tornam ainda mais cruciais.
“Não basta termos uma força militar bem equipada. É preciso garantir que ela seja composta por profissionais comprometidos com a defesa do interesse público, dotados de ética, disciplina e formação adequada para responder aos desafios do presente e do futuro”, frisou o general.
A sua intervenção provocou reações mistas entre os analistas políticos. Enquanto alguns consideram as declarações como um contributo valioso para o debate sobre a reforma do sector de defesa, outros entendem que as mesmas podem ser vistas como um ataque directo à actual liderança militar e governativa. Ainda assim, é inegável que as palavras de Capitine abriram espaço para uma reflexão mais profunda sobre o papel das forças armadas no actual contexto político moçambicano.
Ao encerrar a entrevista, Capitine fez um apelo à classe política e aos actuais responsáveis pelas FDAM: “O país precisa de forças armadas verdadeiramente republicanas, que actuem com imparcialidade e se mantenham afastadas da disputa político-partidária. Só assim poderemos garantir a estabilidade e a paz duradoura.”
Enviar um comentário
Enviar um comentário